domingo, 29 de dezembro de 2013

O ano da restauração





Introdução:

Permitam-me explicar o porquê da escolha do tema. Primeiro que tudo por estarmos no mês de Dezembro, o mês da restauração.  Foi no dia 1 que se deu o golpe palaciano e no dia 15 que se dá a aclamação do duque de Bragança como rei D. João IV.
 Mas a razão principal nem é nenhuma dessas… Se na primeira metade do século XVII faltavam meios, sobrava no entanto coragem, vontade e empreendedorismo, características em falta na nossa sociedade actualmente. Então como agora, o povo vivia oprimido. Então como agora o povo vivia sedento de mudanças. Mas a união, o orgulho e o patriotismo transformaram o sonho da recuperação da soberania nacional numa realidade. Difícil de alcançar, mas por isso mesmo mais saborosa.
A restauração da independência representa um dos momentos mais importantes para nós portugueses. A forma como conseguimos arranjar meios (económicos e militares) com tão poucos apoios iniciais para nos libertarmos do jugo de uma das maiores potências europeias da época ainda hoje representa um mistério difícil de explicar completamente. Qualquer bom português deve, portanto retirar deste acontecimento uma lição para a vida. E a moral da história é esta: se as coisas não estão bem, então têm de mudar, não se deixam andar à deriva esperando pelo destino.
Não se devem deixar caír no esquecimento os bons exemplos.

Facto:
Há 373 anos atrás, Portugal voltava a ser um país independente após 60 anos de domínio espanhol.

Antecedentes:
Nos primeiros anos da união peninsular, a gestão de Filipe II prometia ser uma lufada de ar fresco para um reino mergulhado numa crise profunda após o desastre de alcácer-quibir em que se perdeu o rei D. Sebastião e a nata da nobreza e dos quadros militares portugueses. Filho de mãe portuguesa, (a imperatriz Isabel de Portugal) Filipe prometeu respeitar a língua, as instituições portuguesas e prometeu não interferir  no governo do reino, o qual confiaria a uma junta governativa constituída exclusivamente por portugueses e chefiada por um vice-rei que seria sempre uma pessoa de sangue real e da sua confiança. Garantia desta forma uma ampla autonomia para o território português, tendo prestado juramento a esse respeito nas cortes de Tomar de 1581 (estatutos de Tomar).
 A pujança do império espanhol  prometia, como já referimos, fazer do seu reinado uma benesse que tiraria o país (e o império) do abismo em que se havia colocado. Contudo, cedo se percebeu que essa era apenas uma ilusão. A partir do desastre da invencível armada (1588), em que grande parte da frota portuguesa foi destruída, a Espanha entra numa grave crise financeira. Para garantir o funcionamento de uma máquina imperial imensa, distribuída por 5 continentes, e manter um aparelho militar à altura, a monarquia espanhola gastava em meados da década de 1590 cerca de 12.000.000 de cruzados anuais. Com a prata vinda das Américas a escassear,  afigurava-se um cenário de bancarrota que vem a acontecer primeiro em 1596, depois sucessivamente em 1607 e 1628. Inicia-se assim o declínio do poderio espanhol que se iria acentuar na primeira metade do século XVII.
Por consequência directa, as coisas começaram a complicar-se para Portugal que, além dos pesados impostos que se viu obrigado a pagar,  via-se também a ser atacado pelos inimigos da  Espanha – Inglaterra e Holanda – que atacavam as possessões portuguesas além mar, os portos e os navios.  É durante o período Filipino que Portugal perde Ormuz para uma coligação de Persas e Ingleses e a Bahia e Pernambuco, no Brasil para os holandeses (viria no entanto a recuperar estes territórios brasileiros em 1654).
 Entre 1618 e 1648, decorre na Europa a guerra dos 30 anos, que opôs os Habsburgos espanhóis e austríacos aos estados europeus seus inimigos (França, Holanda, Inglaterra, Suécia, Dinamarca e alguns principados alemães). Esta guerra devastou sobretudo os territórios da actual Alemanha e marcou o fim do domínio das monarquias dos habsburgos na Europa. Acentuava-se ainda mais a crise com mais “austeridade” para o povo.
As coisas em Portugal atingiram o ponto de rotura com o advento de Filipe IV (1621-40). Este nomeou para governar dom Gaspar Filipe de Guzmán, conde duque de Olivares. O estadista régio definiu em 1625 uma grande estratégia de gestão do declínio, plano que pretendia tirar o império espanhol do declínio, unificando os vários reinos da península que o constituíam. Objectivamente, o que Olivares pretendia era absorver Portugal e os outros reinos que compunham a monarquia espanhola através de uma ambiciosa política de centralização régia. Era a filosofia de uma nação, uma moeda, uma língua que pretendia implementar. O descontentamento geral do povo com os constantes aumentos de impostos, a violação ao disposto nos estatutos de Tomar e a supressão da corte do conselho de Portugal substituindo-o por uma junta menor, premiram o gatilho de um golpe de estado que vinha sendo planeado havia alguns anos em Lisboa por um grupo de fidalgos intitulados os 40 conjurados (por pertencerem a cerca de 40 linhagens nobres). Destes, há a destacar o nome de João Pinto Ribeiro, o grande impulsionador da conspiração.
Em 1637 dá-se em Évora um levantamento popular conhecido como a “revolta do Manuelinho” em que o povo se amotinou contra o aumento de impostos decretado pelo governo de Lisboa e pela elevação do imposto do real de água. Os principais incentivadores desta revolta terão sido o Procurador e o Escrivão do Povo. No entanto as ordens para o movimento apareciam assinadas pelo “Manuelinho” um pobre tolo daquela cidade alentejana. Esta revolta alastrou a vários pontos do país e já com o objectivo de depôr a monarquia filipina. Mas acabou por ser suprimida pelas forças espanholas. Ainda não tinha chegado o momento ideal.
Em 1639, por fim, chega esse momento. A Catalunha revolta-se e Olivares impõe o recrutamento de 7000 nobres portugueses para suprimir a revolta. Esta era uma oportunidade que não se podia perder. Com a maioria dos militares espanhóis deslocados para a frente catalã, os nobres portugueses decidiram que seria preferível lutar por uma guerra sua em detrimento de uma guerra dos outros.  


O 1º de Dezembro:

O ano de 1640 viu crescer em Portugal um movimento nacionalista por todas as camadas da sociedade. E o dia 1 de Dezembro de 1640 funcionou como dia de ano novo antecipado, pois significou uma mudança de vida desejada por todos os portugueses. Foi o terminar de 60 anos negros de dominação estrangeira.
Pela manhã desse dia, em Lisboa,  os nobres revoltosos invadiram o paço da ribeira, prenderam a vice-rainha (a duquesa de Mântua) forçando-a a ordenar a rendição das suas tropas e mataram aquele a que consideraram um traidor da pátria, pois era um português ao serviço dos interesses espanhóis: o secretário de estado Miguel de Vasconcelos. A única vítima mortal do golpe palaciano.
O duque de Bragança, D. João, que era o único pretendente ao trono com legítimas e reconhecidas aspirações para se tornar rei de Portugal, aceitou a proposta dos conjurados (após receber garantias de apoios internacionais) e no dia 15 de Dezembro foi aclamado rei de Portugal com o título de D. JoãoIV.  Começava assim a 4ª dinastia portuguesa e uma longa e desgastante guerra com Espanha que durou 28 anos findos os quais Portugal via reconhecida finalmente a sua independência.



domingo, 1 de dezembro de 2013

Génese

O jornal norte-americano The New York Times, naquela que é a sua edição internacional,
comparou os portugueses ao burro mirandês.
Isto porque, de acordo com aquela publicação, esta raça retrata a situação do País: o seu papel foi essencial durante anos, mas agora está em risco de extinção e vive dependente de verbas da União Europeia.

Foi a partir daqui que decidi criar este blogue, algo que já andava a congeminar há muito. Ao contrário do que se possa pensar nem foi pela comparação infeliz dos portugueses com o pobre animal que tão importante foi para as nossas gentes durante séculos.
Antes sim pela conclusão a que um jornalista estrangeiro chega acerca de nós: "tivemos um papel preponderante no mundo, mas já nem a nossa própria sobrevivência conseguimos garantir.
Triste e chocante atestado de decadência visto de fora...
No entanto se há algo que temos a mais que os americanos, é tempo de vida enquanto nação. E se há algo que temos obrigação de ser melhores que eles, (que regra geral desprezam a cultura) é no nosso auto-conhecimento.Tenho um enorme orgulho em ser português e de fazer parte deste nobre povo, deste pequeno país mas desta grande nação e adoro embarcar nas epopeias do conhecimento para poder contar as nossas façanhas.
Obviamente que não pretendo fazer deste blogue uns "lusiadas" versão digital e se ousasse fazer isso seria um pretensiosismo estúpido da minha parte.
Apenas quero dar o meu pequeno contributo para transmitir um pouco da nossa cultura e perpetuar a nossa memória. Farei o meu melhor e tentarei focar temas não só da nossa história mas também da história europeia e universal.

Enquanto ciência social, a disciplina de história assume um papel preponderante na construção do indivíduo, pois representa a tomada de consciência dele próprio.
E esta tomada de consciência adquire-se por um lado através da procura do conhecimento, por outro pela análise e interpretação de quem fomos e do que fizemos.
Dificilmente uma sociedade que menoriza aquilo que foi e abandona a sua cultura poderá progredir e facilmente a sua memória desaparecerá no tempo.
É aqui que reside o legado da história. Nascem assim "os arquivos do tempo".


A data de criação deste blogue não é inocente.
Representa o 1º de Dezembro uma das datas mais importantes de toda a nossa história.
De forma sucinta, se o dia 1 de Dezembro de 1640 não tivesse existido, hoje em Portugal falar-se-ia espanhol muito provavelmente. E com toda a certeza Portugal já não existia. Foi este o feriado que os nossos governantes actuais resolveram abolir. Abolir um dia tão importante representa um atentado escandaloso à memória dos nossos antepassados e um ataque à própria soberania nacional. Mas isso deixou de me escandalizar no dia em que estes mesmos protagonistas políticos da nação içaram a bandeira nacional ao contrário como se fosse a coisa mais natural do mundo entre sorrisinhos infames e nem se deram ao trabalho de a corrigir.
Não é de política que aqui queremos falar. Mas convém não esquecer que política e história são conceitos que se intersectam pois como disse um dia o saudoso professor José Hermano Saraiva:


 "A história diz-nos quem somos, mas é a política que nos diz quem devemos ser."