Terminamos este nosso périplo pela história militar da idade média com uma breve dissertação sobre a guerra de cerco.
A partir de meados do século XI, o conceito de
guerra modificou-se. A preocupação principal deixou de ser o saque e os
proveitos de guerra para passar a ser o controlo territorial. As acções
militares passaram a ser cuidadosamente planeadas de modo a assegurar a
ocupação do território conquistado, numa perspectiva diferente da guerra de
pilhagem que visava o proveito económico imediato.
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Fig. 1 - Cerco de Duras durante a guerra dos 100 anos |
A guerra de cerco tinha por objectivo destruir através do desgaste e debilitar as forças inimigas atacando-lhes as estruturas militares e criando instabilidade. Estávamos perante uma perspectiva de conquista militar aliada a uma expansão territorial, princípios tão em vigor nos séculos XII e XIII portugueses aquando da “reconquista” cristã.
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Fig. 2 - Cerco de Jerusalém na primeira cruzada |
Adquirir o controlo dos pontos
fortificados passou assim a ser o objectivo dominante de uma campanha militar.
Controlando a praça, controlava-se o território adjacente.
A instalação
do cerco
Depois havia também a questão dos
recursos aquíferos. No verão, o calor e a seca, além de aumentarem o consumo de
água por parte das populações, também causavam a extinção de fontes e riachos.
Se uma fortaleza não tivesse abundância de água durante o tempo de duração de
um cerco e os sitiantes dispusessem dela com fartura, era certo que seria
apenas uma questão de tempo até ao povo cercado capitular pela sede. A água era
portanto um factor-chave para a vitória neste jogo de paciência. O mesmo se
passava em sentido contrário i.e. se os defensores de uma fortificação tivessem
abundância de água, provisões, armas e defesas, não teriam muitas
dificuldades
em resistir ao assédio contrário e muitas vezes forçavam o inimigo a levantar o
cerco.
Assim, além dos factores clima e
gestão de recursos, era também necessário observar e fazer uma análise prévia
ao terreno limítrofe da fortificação. Isto para se escolher o melhor sítio para
instalar o arraial (do ponto de vista ofensivo mas também defensivo) e
programar a ocupação dos pontos mais importantes de onde poderia surgir a ajuda
externa (estradas, cursos de água, pontes...). E caso a fortaleza que se
pretendia cercar fosse um porto de mar, era fundamental proceder a um bloqueio
marítimo.
Uma vez efectuadas as diligências
preliminares, era chegada a altura de assentar o arraial. Por uma questão de
funcionalidade e segurança, este deveria ficar próximo do objectivo, mas
simultaneamente afastado o suficiente para evitar ser atingido por projécteis
disparados pelas forças defensoras da praça. Por outro lado, se o exército
dispusesse de número suficiente de homens, era recomendável que o arraial
cobrisse todo o perímetro muralhado de modo a isolar ainda mais os sitiados.
Caso não fosse possível cercar todo o recinto, o contingente era distribuído de
forma a cobrir os pontos estratégicos necessários ao controlo do inimigo.
Outra questão fundamental relativa à
hoste atacante, era o elevado grau de organização e disciplina que esta deveria
ter. Com o tempo a passar e a moral a caír, só uma hoste bem disciplinada
conseguiria manter os índices de concentração elevados para conseguir triunfar.
A segurança preventiva era outro
factor de especial importância a ter em linha de conta. Desta forma, os chefes
militares salvaguardavam o pessoal do acampamento. Ordenavam então que se
fortificassem com paliçadas, trincheiras e fossos os limites do arraial e se
instalassem pequenas torres de vigia para evitar eventuais contra-ataques das
gentes cercadas. Uma permanente vigia diurna e nocturna com recurso às torres e
às patrulhas, asseguravam o funcionamento normal do acampamento.
Um dos factores que poderia
desiquilibrar a contenda a favor das forças atacantes eram a programação da
logística e a eficácia das linhas de abastecimento. Com efeito, a questão do
abastecimento constituía um problema nuclear da hoste que cercava a fortaleza.
Havia então de assegurar a vigilância da linha de abastecimentos e proteger os
homens que se afastavam periódicamente do arraial para obter mantimentos e
forragens para os animais.
A ofensiva: As máquinas de guerra
A partir de
meados do século XI começam a ocorrer os cercos prolongados no território
português. O primeiro caso registado foi o de Lamego (em 1057), mas temos
também o de Coimbra (1064), ambos levados a cabo por Fernando Magno de Leão. Já
no século XII, nos primórdios do reino de Portugal, temos ainda o cerco de
Lisboa (1147) executado por D. Afonso Henriques e o de Silves (1189), por D.
Sancho I. Os quatro resultaram em vitórias para os sitiantes.
Nos
grandes cercos entre forças equilibradas, como o foram estes, o recurso à
engenharia bélica podia desiquilibrar a contenda a favor dos sitiantes.
De
acordo com os estudos do grande historiador militar britânico, professor John
Keegan, as máquinas de guerra são tão antigas como as tácticas de cerco em si. Segundo ele, desde
a antiguidade que as grandes civilizações utilizavam estas máquinas de assédio,
das quais as medievais descendiam por afinidade. Assim, é no antigo Egipto que
surge a primeira representação de um Aríete
(datada de 1900 a.c.).
Relatos escritos da guerra de cerco grega revelam o aparecimento do primeiro
dos engenhos para arremesso de projécteis: a
Catapulta. Datada de 398 e 397 (a.c.). As Torres Móveis por sua vez, imortalizadas
entre nós na tomada de Lisboa aos mouros, aparecem já representadas na
Mesopotâmia num relevo datado de 745-727 (a.c.). Há também alusões ao uso de
fogo para atacar os portões e o interior das fortificações, às técnicas de
interrupção do abastecimento de água aos sitiados e o bloqueio aos géneros
alimentares, levando-os à capitulação através da fome e da sede. Todas estas
são técnicas comuns à idade média mas, como se vê, com uma origem bastante mais
recuada.
É durante o século XII que se
generaliza o recurso às máquinas de cerco quer em Portugal, quer no resto da
Europa e no contexto das cruzadas. Na realidade, neste período os engenhos
conheceram um notável desenvolvimento e dominaram os cenários de guerra até
finais do século XIV, altura em que a revolução da pólvora os foi substituindo
gradualmente pelos trons e as bombardas.
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Fig. 3 - Algumas das principais máquinas de guerra usadas na idade média |
Os
engenhos ou máquinas de cerco são uma série de armas que aplicavam dois
princípios distintos no arremesso de projécteis: a torção de cordas (catapultas
e balistas) e o sistema de contrapeso ou tracção (trabucos). Como outras armas
regularmente utilizadas durante o assédio às fortificações tínhamos ainda o
aríete e a torre de assalto. Estas estavam direccionadas ao ataque a curta
distância.
Comum
a todos estes engenhos é que para a sua concepção e manobra precisavam de
pessoas especializadas na arte de desenvolvimento das máquinas de assédio. É
neste contexto que surgem na idade média os engenheiros, então conhecidos como
“mestres de engenho”. Para se ter ideia da importância que estes tinham na
manobra militar em Portugal, na época da reconquista, D. Sancho I recompensou
através da concessão de terras e privilégios, um dos mestres de engenho – “Domno Michaeli magistro ingeniorum”
pelos serviços prestados à coroa durante o cerco de Silves.
As
armas de arremesso de projécteis podiam disparar grandes dardos (balista) ou
pedras de grandes dimensões, projécteis incendiários e carcaças de animais
(catapultas e trabucos). O objectivo era enfraquecer ou abrir brechas nas
muralhas dos castelos, incendiar as casas do seu interior ou espalhar doenças
na população sitiada.
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Fig. 4 - Protótipo de uma catapulta medieval |
Foi
talvez a arma mais difundida de todas as armas de cerco da idade média, pois,
além de ser mais pequena, permitia um ritmo de tiro maior que o trabuco por
exemplo (embora este tivesse efeitos mais devastadores).
Trabuco
ou Trabuquete – Era uma arma de sítio que se baseava nos princípios do
contrapeso ou da tracção. Em qualquer dos casos a sua forma era semelhante: uma
estrutura em T ou V invertidos, com um eixo na parte superior no qual se
articulava um braço móvel. Este braço era preso de forma assimétrica, com o
braço grande destinado ao projéctil (que normalmente era de maiores dimensões
do que o da catapulta, pois assentava numa cavidade maior) e o braço pequeno
destinado ao contrapeso ou às cordas que eram puxadas pelos guerreiros para
arremessar o projéctil. A solução mais utilizada parece ter sido o trabuco de
contrapeso, pois libertava os guerreiros responsáveis pela sua tracção para
outras funções. Dele encontramos na Península Ibérica representações
epigráficas e registos cronísticos e documentais em maior número.
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Fig. 5 - Reconstituição de um trabuco medieval |
Inventado
na China, aparece na bacia mediterrânica em 624 (d.c.) no contexto da expansão
muçulmana. Pensa-se que teria sido difundido mais tarde por toda a Europa
cristã pelos cruzados (pois só existem registos documentais do seu uso depois
da primeira cruzada), tendo sido uma das máquinas utilizadas por estes durante
o cerco de Lisboa de 1147.
A desvantagem
em relação à catapulta era que, além de não ser móvel, tendo muitas vezes de
ser montado no próprio local de assédio, o
trabuco tinha uma cadência de tiro mais lenta. Entre as vantagens encontram-se
a maior destruição que os projécteis causavam com o embate (devido à curva
parabólica que efectuavam). O trabuco também podia arremessar diversos tipos de
objectos/animais e a maiores distâncias que a catapulta evitando o fogo
inimigo. Assim tornava-se mais nefasto quer para as pessoas quer para as construções.
Popularizou-se até aos finais da idade média.
Balista - A primeira
característica que salta à vista desta arma é o facto de ela ser muito
semelhante a uma grande besta, sendo por vezes designada por “besta de
terreiro”. Como tinha rodas, fazia lembrar uma besta montada num carro. Se
formos mais ousados, conseguimos detectar nela um possível antepassado medieval
dos tanques de guerra actuais. Tal como a catapulta, a balista assentava o seu
funcionamento no princípio da torção de cordas. Tinha estrutura em T e dois
braços paralelos e independentemente ligados (ao contrário da besta que tinha
um arco uno) nas pontas por uma corda forte e estes por sua vez, ficavam
ligados a um sistema vertical de cordas torcidas. A estrutura ficava assente,
como já vimos, sobre rodas. Para se armar a balista era necessário puxar a
corda para a retaguarda do engenho, com auxílio do sistema de engrenagens que a
compunham. À medida que a corda era puxada, os dois braços ficavam sujeitos a
uma enorme pressão exercida pelos sistemas de cordas torças. Depois,
colocava-se o projéctil – normalmente um grande dardo de cabeça metálica ou
incendiária
– e a balista ficava pronta a disparar.
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Fig. 6 - Uma balista |
Vantagens
da balista em relação a outros engenhos: permitia tiro com alguma fiabilidade e
precisão, uma cadência elevada e podia ser transportada facilmente e montada no
alto das torres mais largas dos castelos. Era portanto uma arma com grande
importância quer do ponto de vista ofensivo quer defensivo. Utilizava-se nos
cercos como arma incendiária tanto pelos sitiantes como pelos sitiados. Entre
nós utilizaram-se balistas durante os cercos de Lisboa (1147) e Silves (1189).
Torres de assalto - também
designadas como torres móveis, eram estruturas de madeira de grande
envergadura, revestidas com terra e peles de animais e que podiam transportar
guerreiros no seu interior. Possuíam igualmente orifícios que permitiam o
ataque das forças balísticas durante a sua deslocação. Apesar de dotadas de
rodas, não podiam ser deslocadas ao longo de grandes distâncias devido ao seu
peso e à instabilidade dos terrenos. Assim, as torres de assalto eram
construídas no local de assédio e muitas vezes à vista das forças sitiadas que
imediatamente se alarmavam e preparavam para responder à ofensiva. Essa contra-ofensiva
constava normalmente, na tentativa de a incendiar quando esta investia na
direcção de uma muralha ou de uma porta. Assim aconteceu por exemplo com a
torre que os cruzados flamengos fizeram durante o cerco de Lisboa de 1147. À 2ª
tentativa, para as proteger do fogo, os cruzados cobriram as torres com couro
de boi húmido e desta forma já conseguiram alcançar as muralhas da cidade. Uma
vez chegadas aos muros, as torres de assalto tinham a vantagem de oferecer
alguma protecção aos soldados que os escalavam. E como as torres normalmente
eram mais altas que os muros (da altura dos muros dependia a altura das
torres), permitiam aos besteiros e arqueiros do seu interior que pudessem
alvejar de cima para baixo os defensores, causando-lhes desta forma pesadas baixas
quando se conseguiam aproximar.
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Fig. 7 - O cerco de Lisboa com a célebre imagem da torre de assalto construída pelos cruzados |
Aríete
– A palavra é uma variante do latim “aries”, que significa carneiro. Era uma
máquina móvel com 4 rodas e composta por um mastro de madeira com a cabeça
revestida a ferro (muitas vezes com a forma de um carneiro, daí o seu nome),
preso por meio de correntes ou de cordas fortes a uma estrutura de madeira em
forma abobadada. Através do manejo das correntes e das cordas, os assaltantes
faziam avançar e recuar a grande viga, imprimindo-lhe um movimento de vaivém
que era aproveitado para demolir ou abrir brechas na muralha ou na porta. Após
a abertura da primeira brecha no muro, colocava-se na cabeça do “carneiro” um
gancho que servia para ir arrancando pedras à muralha, alargando desta forma o
rasgo inicial.
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Fig. 8 - Um aríete |
De
acordo com os estudos de João Gouveia Monteiro, não há referência nas fontes
portuguesas a este tipo de arma de assédio. Contudo, em virtude da sua
importante intervenção na história bélica da idade média e em particular na
guerra de cerco, da qual é uma das protagonistas no ataque a curta distância,
achámos por bem dar-lhe o destaque merecido.
Cavas ou
Minas – Também denominados trabalhos de sapa. Esta técnica de assalto a uma
fortaleza consistia na escavação de túneis em direcção às muralhas do castelo
com o objectivo de as derrubar ou entrar na praça. Era um processo moroso de
trabalho e de resultado incerto, mas quando executado com êxito poderia ser a
chave de sucesso para a vitória dos atacantes.
Flávio
Vegécio teoriza já no epitoma rei
militaris o modo de executar a minagem: Esta consistia em escavar, tão
discretamente quanto possível um túnel a partir de um ponto do arraial ao
abrigo de uma casa ou tenda. Este tinha que ser profundo o suficiente para
passar por baixo de eventuais fossos e dos alicerces das muralhas, largo o
suficiente para nele caberem os homens e comprido o bastante para chegar às
muralhas. Uma vez alcançadas, deitava-se fogo à base da muralha ou da torre de
modo que o calor nas pedras a fizesse entrar em colapso e a derrubasse. Esta
técnica, bastante popular nos séculos XIII e XIV, não se revelou no entanto
muito eficaz, pois além de demorada, os inimigos apercebiam-se dela
regularmente e defendiam-se da mina facilmente, quer fazendo uma contramina,
quer emboscando os atacantes.
Os engenhos eram considerados vitais para o sucesso de
uma operação de assédio devido ao papel que desempenhavam na destruição das
defesas do inimigo, quer derrubando muralhas e torres, quer incendiando casas e
construções da praça sitiada. Podiam ser utilizados em simultâneo com outras
técnicas de assédio que já aqui enumerámos, o que dava maiores probabilidades
de sucesso aos atacantes. Até aos finais da idade média estes eram ainda
considerados muito mais úteis do que os engenhos pirobalísticos que com eles
começavam a conviver. Imprecisos e ainda primitivos, os trons e as bombardas
utilizavam-se nos seus primórdios mais como recurso defensivo, porém sem
grandes resultados. Tomemos como exemplo de comparação entre os dois sistemas
este trecho da crónica de D. João I de Fernão Lopes aquando do cerco de Melgaço
de 1388:
«tendo jaa os da vila lamçadas pedras de troons que
nam fezerão porem damno, mandou el-Rey armar um enjenho acima da ponte da
villa. E logo essa quarta feyra lançou cinquo pedras,e três foram dentro no
logar e duas deram no muro. E respomderan-lhe de dentro com doze pedras de
troons, que nenhum damno fezeram. A quinta feyra lançou o enjenho xxv pedras,
das quaes deram xvi no muro e duas em dous caramanchões que foram logo
deribados. E as nove cahiram dentro na villa, que fezeram gram perda em cassas
que deribarão (…) temdo lançadas da villa de dentro ao arrayal cento e xx
pedras de troons, que nenhuum nojo fezeraão, e do arrayal a villa trezemtos e
xxxvi que danaram gram parte della»
A
resistência
Tendo analisado o ponto de vista dos
atacantes, iremos agora analisar o ponto de vista de quem resistia a um cerco:
i.e. o dos sitiados.
Para
se preparar a resistência a um cerco teria de haver por parte dos seus
defensores um notável planeamento, aliados a grande sentido de organização e
espírito de sacrifício. Por vezes, a sorte também ajudava (como ajudou o Mestre
de Avis, aquando do cerco castelhano a Lisboa em 1384, levantado devido a um
surto de peste no arraial castelhano). No entanto, e até ao efectivo triunfo
das armas de fogo, os meios defensivos tinham ainda considerável vantagem sobre
os ofensivos.
Mais
que os homens ou os projécteis, os grandes inimigos da hoste sitiada eram a
fome e a sede. Era fundamental proceder à recolha prévia do maior número
possível de mantimentos e água.
Uma
resistência eficaz implicava também que se pudesse contar com uma guarnição
relativamente numerosa (ou não sendo possível em número, pelo menos em extensão
a toda a muralha), fiel, disponível e motivada para o combate. A esta guarnição
pedia-se regularmente que trabalhasse na vigia, diurna e nocturna aos pontos
fracos do castelo. Esta tarefa de grande responsabilidade só teria sucesso no
entanto se as estruturas do castelo (muralhas, torres, barbacãs) se
encontrassem em bom estado de conservação, pelo que era fundamental proceder ao
exame prévio do castelo quando se previsse que este iria ser assediado. Se
houvesse tempo, o ideal seria reforçar-lhe as defesas (ex: instalar matacães
nas torres, cavar fossos em redor da fortaleza, etc.), procedendo a obras não
muito demoradas, mas eficazes.
Para
responder aos ataques inimigos, também era muito importante dispor de armamento
em quantidade e qualidade. Para se retaliar da melhor forma ao fogo adversário,
mas também porque nunca se sabia ao certo o tempo que um cerco poderia durar,
logo era essencial dispor de armas e munições em abundância.
Preparadas
as defesas, era chegado o momento de espera pelo assalto. Quando o atacante
iniciava a manobra, a primeira coisa que o defensor deveria fazer era evitar a
todo o custo que este chegasse às muralhas e torres. Para isso, os arqueiros e
besteiros disparavam uma chuva de setas e virotes, que poderiam vir
acompanhados de pedras, de dardos de balista, de projécteis de catapulta (no
caso das fortificações que tinham armas de cerco para se defenderem) e de águas
e óleos ferventes.
Uma técnica eficaz de reter o avanço
das linhas inimigas era incendiar-lhe ou quebrar-lhe as estruturas que se
dirigiam ao castelo e espalhar armadilhas à volta da muralha. Era normal então
os arqueiros terem no adarve, além do alforge cheio de munições, um braseiro e
setas inflamadas para poderem disparar e pegar fogo às armas do adversário.
A falta de mantimentos era o maior
problema com que se deparavam os sitiados enquanto decorria o cerco. Neste
ponto, descreve-nos Fernão Lopes, aquando do cerco castelhano de 1384 o
seguinte:
«E esto fartou assim a cidade apertadamente que as
publicas esmolas começavam de fallecer, e nenhuma geração de pobres achava quem
lhe dar pão de guisa que a perda commum vencendo de todo a piedade, e vendo a
grande mingua dos mantimentos, estabeleceram deitar fora as gentes minguadas e
não pertencentes pera a defensão. E esto foi feito duas ou três vezes, até
lançar fora as mancebas mundanárias e judeus, e outros similhantes, dizendo
que, pois taes pessoas não eram pera pelejar, que não gastassem mantimentos aos
defensores…»
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