sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A idade dos castelos – 2ª parte – Tipos de castelos e sistemas defensivos

Tipos de castelos

Por ordem cronológica e de uma forma simplificada, podemos identificar quatro tipologias de castelos durante a idade média em Portugal. São eles:

  • Castelos roqueiros
  • Castelos condais
  • Castelos românicos (com e sem influência muçulmana)
  • Castelos góticos


Castelos roqueiros – Apesar de no contexto peninsular remontar a uma época mais antiga, o castelo propriamente dito, resultante do primeiro “encastelamento” no espaço português, terá aparecido entre nós no século IX por época de Afonso III das Astúrias. Diz-nos o professor Mário Barroca que terá sido um castelo roqueiro, cujo primeiro registo data de cerca do ano 870 no actual território bracarense próximo do rio Ave. A conclusão que resulta da análise aos (poucos) vestígios dessas estruturas, mostra que seriam estruturas rudimentares, referidas na documentação da época como «monte», «mons», «castrum» ou «alpe». Correspondiam precisamente a um monte ou outra elevação em que se procedia a obras básicas de fortificação. Deslocavam-se terras para criar desníveis de cota e construiam-se muros incipientes, frequentemente em forma de talude e compostos por um aparelho de terra e pedra. Muitas vezes aproveitavam-se os afloramentos rochosos existentes no local para se incorporar na própria linha da muralha (daí o nome “roqueiro”), por forma a minorar os custos e o esforço de construção.
Fig.1 - Castelo de Penela - Construção em afloramento rochoso
Estes castelos roqueiros, cujos vestígios entre nós são muito escassos, terão sido construídos por iniciativa das populações locais. Seriam fortificações arquitectónicamente primitivas, de dimensão reduzida, com uma única entrada, sem torre de menagem, torreões, adarves, ameias e outras estruturas de defesa activa que só apareceriam muito mais tarde. Eram locais de refúgio para as populações, que neles se recolhiam com alguns bens e gado, fugindo assim das incursões inimigas.
Um exemplo de castelo roqueiro é o caso do castelo de Penela. Este castelo representa um caso curioso de coincidência entre a nomenclatura castelar e o nome da região. Passamos a explicar: Sabemos que
penella, derivado de pena ou penha, designava um castelo erguido entre e sobre os rochedos. Poderíamos, portanto, identificar essas penellas com estruturas similares aos castelos roqueiros do primeiro encastelamento do Entre-Douro-e-Minho.

Castelos condais – Depois do primeiro encastelamento do séc. IX surge o segundo encastelamento dos sécs. X e XI, que deriva da nova reforma administrativa dos territórios. Por iniciativa dos monarcas asturianos, os territórios passam a subdividir-se em condados (unidades políticas), territoria (unidades eclesiásticas) e civitates (unidades militares).

A construcção de castelos nessas
civitates visava a consolidação do território conquistado aos muçulmanos.

Por exemplo, a constituição da
civitas de Anegia. Os castelos transitam então de simples locais de refúgio para centros de poder político, cujo senhor era um conde ou “comite”.
Os condes normalmente eram nomeados régiamente entre as elites nobres para dirigir o território que lhes era destinado. Assim foi com Vímara Peres, vassalo de Afonso III das Astúrias que, em 868 foi nomeado conde de portucale e que foi o fundador de uma dinastia condal que governaria o território portucalense até 1071, altura em que o condado foi incorporado no reino da Galiza.

Os castelos condais já obedeciam a uma concepção arquitectónica mais sofisticada que os seus antecessores. O grande exemplo de castelo condal em Portugal é o castelo de Guimarães, fundado pela condessa Mumadona Dias por volta de 950 com o intuito de proteger o recém-construído mosteiro de Guimarães dos ataques normandos. Outros exemplos são o castelo de Vermoim, o de Lanhoso e os dez castelos de D. Flâmula do Entre Douro e Minho, registados documentalmente (Trancoso, Moreira de Rei, Longroiva, Numão, Muxagata, Meda, Penedono, Alcarva, Sernancelhe e Caria).
Fig. 2 - Castelo de Guimarães


Os castelos de Póvoa de Lanhoso e Trancoso:

Em relação ao castelo de Lanhoso, datado inicialmente do século X e reconstruído no XI, da sua composição inicial poucos são os vestígios que subsistem inalterados, contudo é possível detectar a nível da sua estrutura base alguns elementos que o identificam como castelo condal, como a alcáçova senhorial (elemento ilustrativo das suas funções como centro governativo) e a muralha de excelente qualidade (por oposição às muralhas dos castelos roqueiros) construída já com aparelho pré-românico. Também a nível estrutural, de realçar a introdução de diversos torreões adossados quer à porta, quer ao recinto muralhado.
Fig. 3 - Castelo de Póvoa de Lanhoso 
Em Trancoso, encontramos no seu castelo um dos principais vestígios da arquitectura militar moçárabe e simultaneamente um antecessor das torres de menagem do período românico (cuja função viria a cumprir antecipadamente). Trata-se da torre moçárabe do século X. Esta torre, datada de cerca de 960 (anterior, portanto ao aparecimento das primeiras torres de menagem) tinha uma forma tronco-piramidal com 12 metros de lado. Não era esquadriada, pois não possuía ângulos rectos e tinha uma janela em forma de arco de ferradura, característica da arte visigótica e islâmica.
Fig. 4 - Torre moçárabe do castelo de Trancoso

Castelo Românico – Em Portugal é uma construção maioritariamente de pedra, ao contrário de outras zonas da Europa em que a madeira era muito aplicada. O românico é o modelo arquitectónico dominante quer na arquitectura civil, quer religiosa e militar do século XII.
Os castelos eram agora concebidos com vista a obedecerem aos princípios de comando e de defesa passiva, não descurando, no entanto a busca pela contra-ofensiva.
Ao princípio de comando está intimamente ligada a maior inovação introduzida durante este período: a introdução das torres de menagem. Estas, situavam-se no interior do páteo cercado pela cintura muralhada do castelo e seriam construídas ou numa cota superior à do restante recinto ou , não sendo possível, com uma altura maior que o restante da estrutura. Assim, a partir da torre de menagem, organismo central do castelo, organizavam-se os dispositivos de defesa das restantes linhas. Por este mesmo princípio ficava definido que os torreões também se deveriam situar acima da cota do adarve.

Já o princípio de defesa passiva pressupunha uma grande resistência por parte da estrutura para suportar as operações de cerco, que se iam aprimorando cada vez mais. O aumento da altura e espessura das muralhas, conferindo a robustez como factor intimidatório ao inimigo era uma das táticas utilizadas frequentemente. Também se tentava isolar o castelo do inimigo construindo-o num lugar ermo e quase inacessível (como nos casos de Marvão ou Sintra) ou dentro de um curso de água ou com um fosso à volta (Almourol; fig. 4). O castelo românico tinha o modelo arquitectónico que a maioria das pessoas associa à palavra “castelo”: uma estrutura delimitada por muralha, dotada de um pátio interno e com uma torre de menagem.
Fig. 5 - Castelo de Almourol (séc. XII). Período românico
A muralha, diferente de um muro ou de um talude, por ser mais espessa e toda em pedra, era adossada com vários torreões e erguia-se duas ou três fiadas de pedra acima do adarve formando o parapeito que era coroado pelas ameias ou merlões, separados entre si por espaços regulares (as abertas) por onde os defensores arremessavam projécteis aos atacantes. A muralha delimitava um pátio geralmente de dimensões reduzidas destinado a albergar a guarnição com a sua logística, algumas instalações, oficinas e um poço ou cisterna, elemento essencial para se resistir ao assédio inimigo.
Não se sabe ao certo o ano em que surgiram entre nós as torres de menagem, no entanto, com base nas referências documentais e epigráficas, podemos balizar essa data algures na primeira metade do século XII. À semelhança dos torreões, as primeiras torres de menagem eram de planta esquadriada, com 7 a 8 metros de lado e altura de cerca de três andares. O acesso à torre fazia-se por uma porta rasgada no primeiro andar, servida por uma escada móvel de madeira que podia ser recolhida em caso de ameaça. O andar térreo não tinha porta exterior e podia ser maciço. Não sendo, servia para guardar víveres, bens ou armamento e acessava-se apenas pelo interior da torre. Os outros pisos tinham aberturas estreitas (seteiras) de ranhura vertical adaptadas ao tiro com arco. Funcionava desta forma o “donjon” (nome francófono) ou “keep” (nome anglófono) como fortaleza dentro da própria fortaleza, último reduto de defesa para os sitiados, isolado no pátio das restantes estruturas e detendo as cotas mais elevadas por forma a comandar os restantes dispositivos do castelo.

As influências muçulmanas

De uma forma geral, a qualidade dos castelos muçulmanos do Al-andaluz era bastante superior à dos castelos cristãos do norte. Os mais antigos castelos muçulmanos na península – os husun emirais e califais – eram estruturas geométricas de planta simples quadrangular ou rectangular, dotadas de torreões nos ângulos e mais numerosos ao longo da cintura muralhada. Este era um modelo de influência Síria e Bizantina.
O esplendor do período califal, nomeadamente no tempo de Abd-al-RahmanIII e Al-Hakam II deu lugar à fitna e à queda do regime califal e à implementação da conturbada época da formação dos reinos taifas na península Ibérica. Com a invasão almorávida e subsequente reunificação do Al-andaluz como estado poderoso, novas ideias trazidas por estes do norte de África foram introduzidas na península dos finais do século XI. Começam assim a triunfar as muralhas de taipa. Os almorávidas foram igualmente responsáveis pelo desenvolvimento de um novo tipo de planta de castelo, com espaços poligonais irregulares delimitados por panos de muralha rectilíneos, onde cada inflexão da muralha se apoiava em torreões de planta quadrangular. É notória a influência que estas plantas exerceram, por exemplo, no castelo de Pombal.

Fig. 6 - Panorâmica do castelo de Pombal de influência almorávida

Com a ascensão dos Almóadas, no século XII surgem as mais fecundas novidades em termos de arquitectura militar que há a assinalar no território português e que muito iria influenciar a arquitectura militar cristã dos decénios seguintes. Estes são responsáveis pela difusão, entre nós, das torres albarrãs (que eram torres avançadas em relação à linha de muralha), das torres de planta octogonal (mais económicas e mais resistentes do que as esquadriadas aos trabalhos de minagem e aos engenhos de guerra), das portas em cotovelo e das couraças (troços de muralha que se desenvolviam perpendicularmente ao muro principal da fortificação para garantir o acesso a uma fonte de água). A sua origem é também, tal como no caso dos Almorávidas, norte africana.
Fig. 7 - Castelo de Paderne; construção em taipa e torre albarrã
Fig. 8 - Torre albarrã do castelo de Silves



















Sistemas tácticos defensivos

Subdivisão: Redes de castelos castelos torres atalaias

Os castelos podiam ser encontrados isolados na paisagem ou associados a fortificações de defesa das populações. Teriam como já referimos, função de defesa de pontos estratégicos vitais e de organização do espaço militar numa escala intermédia entre o território e a área que lhe era dependente.
As torres deveriam ser os tipos de fortificação mais difundidos. Eram de baixo custo, fáceis de erguer e exigiam uma guarnição pequena. Funcionavam como defesas avançadas e constituíam sérios obstáculos a qualquer força invasora que, ou perdia tempo a conquistá-las, dando oportunidade à preparação das defesas principais, ou se arriscava a ver a sua retaguarda ameaçada pelo corte da sua linha de abastecimento pelos defensores da torre.
Além das torres de defesa, de igual modo temos de fazer referência às atalaias. Estas tinham como função principal não tanto a resistência aos ataques, mas antes avistar e avisar as fortificações que lhe estavam mais próximas da presença de inimigos. Normalmente a sua colocação no terreno era próxima de locais de passagem, vias, pontes ou vales estratégicos. Constituía assim a primeira linha de defesa e ao mesmo tempo de alerta.
Fig. 9 - Ilustração mostrando o castelo de Olivença. Do lado esquerdo da imagem temos uma atalaia
Nos territórios mais propensos a sofrer ataques muçulmanos, encontramos três tipos principais de organização defensiva. A defesa em linha, a defesa avançada e a defesa em profundidade.
A primeira aparece-nos como a mais óbvia, e está representada, por exemplo, pelo conjunto de fortalezas que se dispõem ao longo das margens de um determinado rio. Assim verificamos nas linhas do Douro e do Mondego, com os seus vários castelos distribuídos ao longo do curso dos rios. A adicionar a estes castelos, eram colocados alguns pontos de defesa secundários nos locais de fácil passagem, principalmente naqueles que proporcionavam vias fáceis de penetração. Ligando estas estruturas defensivas, uma rede de torres e atalaias servia de aviso a invasores e de sistema de comunicação entre as bases principais. A desvantagem deste sistema de defesa era que uma vez rompida a linha num ou vários pontos, o sistema tornava-se ineficaz. Daí ter-se chegado à conclusão de que seria necessário apostar nos outros sistemas, como complemento à defesa em linha.
Fig. 10 - Rede de castelos na linha do Tejo.
A defesa avançada é um sistema defensivo formado por duas linhas. Consistia numa fortificação ou rede de fortificações menores adiantadas e que serviam de “escudo” à fortificação de base que controlava a região. Temos como exemplo o castelo de Santa Maria da Feira, em Portucale, que estruturava a defesa avançada da região, composta por diversos castelos e povoações fortificadas, além dos acidentes geográficos e território acidentado que lhe pontificava nalguns acessos.
Quando possível de implantar na área geográfica, a defesa em profundidade é o sistema de protecção mais completo de entre os três que referenciámos. Consiste em 3 linhas defensivas, sendo que as fortalezas localizadas na linha intermédia, funcionam simultaneamente como linha de apoio à linha da frente e defesa avançada em relação ao território que lhe está na retaguarda (é o caso do sistema defensivo do Entre-Douro-e-Mondego, em que a linha do Vouga desempenhava este papel em relação às linhas do Mondego e do Douro). A eficácia deste sistema comprova-se com a manutenção definitiva de Coimbra e a estabilização da fronteira cristã no Mondego a partir de 1064, mesmo após as ferozes investidas almorávidas dos decénios seguintes.


Do castelo românico ao castelo gótico – As reformas Dionisinas


O que distingue uma muralha de um muro medieval, além da altura é também a espessura que poderia atingir entre 1,80m a 2m e nalguns casos até mais.
O castelo típico do século XII, de estilo arquitectónico românico, era uma estrutura militar obediente aos princípios da defesa passiva. Confiava na capacidade de resistência das suas altas e espessas muralhas para vencer o inimigo, desencorajando-o através do aumento progressivo da altura e espessura das muralhas a empreender um cerco.
O outro princípio associado aos castelos românicos peninsulares é o princípio de comando. Este consistia em organizar os dispositivos de defesa, sendo que da periferia para o centro estes iam tendo cotas cada vez mais elevadas. Esta disposição permitia que um organismo central comandasse todos os que estavam no seu exterior. É o caso dos castelos com várias linhas de defesa em que a interior comanda a exterior. Para que este princípio se verificasse, recomendava-se que os torreões se deveriam elevar acima da cota do adarve das muralhas (para controlo do caminho de ronda) e as torres de menagem teriam de ser as construções mais elevadas de todo o castelo (funcionando como central de comando).
O castelo românico, apesar da sua resistência, descurava no entanto os mecanismos eficazes de contra-ataque por parte das forças sitiadas. Este tipo de concepção revelou-se eficaz numa fase da táctica militar em que os cercos eram operações de duração mais ou menos curta, planeadas de forma deficiente, sem grandes apoios logísticos da retaguarda e em que só excepcionalmente se recorriam aos engenhos e às máquinas de cerco (como se verifica na tomada de Lisboa em 1147). Com o desenvolvimento das operações de cerco e o recurso à engenharia a generalizar-se, a arquitectura militar tendeu a evoluir e alterou-se em função dos princípios da defesa activa.
É nesta medida que D. Dinis, o Rei “Lavrador”, é considerado como o principal obreiro do melhoramento da defesa dos castelos portugueses. Deve-se à sua iniciativa, naquilo que parece ser um plano estratégico previamente conjecturado por parte do monarca, a introdução de reformas nos castelos românicos (tendencialmente a tornarem-se obsoletos). Estes iriam assim, através de obras de renovação, poder responder de forma mais eficiente às exigências da guerra de cerco. Os castelos foram assim dotados de novos mecanismos que lhes permitiram passar de um conceito de defesa passiva para um outro de defesa activa. Embora nalgumas regiões da Europa já se encontrassem estas alterações um pouco disseminada na arquitectura bélica (no reino da França, desde o tempo de Filipe Augusto se vinha a verificar essa tendência), em Portugal é sob a égide do nosso monarca D. Dinis que se regista um aumento considerável dos novos meios defesa/ataque nas fortificações medievais. Um reino a estabilizar política e económicamente e com as suas fronteiras já completamente definidas pelo Tratado de Alcanices (1297) levaram a que o Rei investisse com particular incidência na remodelação da arquitectura militar existente. As regiões de fronteira e os castelos de grande valor estratégico (ou seja, situados em regiões nevrálgicas ou junto a vias de acesso) foram os que mereceram maior atenção da parte do monarca.
As reformas instituídas por D. Dinis tiveram, além da componente arquitectónica propriamente dita, uma componente social de alteração de estatutos. O Rei inicia desta forma uma política (depois continuada pelo seu sucessor D. Afonso IV) de afastamento gradual da Nobreza das Tenências dos castelos, passando a confiar a sua guarda a Alcaides de nomeação régia. Atribui também aos Corregedores das comarcas as tarefas de verificação dos arsenais e de fiscalização e controlo do estado das fortificações. Ficava assim a coroa a tutelar e a assegurar a manutenção dos castelos, ao mesmo tempo que retirava poder aos Nobres, no que se pode considerar uma estratégia de centralização do poder Real.
Fig. 11 - Castelo de Belver na linha do Tejo
São claras as preocupações de D. Dinis e de D. Afonso IV quando incumbiram os corregedores de inspeccionar os arsenais dos castelos. Além de verificar se a fortificação possuía grande quantidade de armamento e de munições, os castelos passaram a ter oficinas de fundição para o frabrico de pontas de seta e de virotões, para que em caso de cerco nunca faltassem munições aos arqueiros e besteiros encarregues da defesa dos andaimos.
É ainda com D. Dinis que triunfa em Portugal o Ius Crenelandi, ou seja, o princípio jurídico que proclama o monopólio régio de edificar fortificações ou obras militares.
Outra medida importante da responsabilidade do Rei “Lavrador” é a instituição dos Besteiros de Conto (corporação de cariz profissional), que obrigava os concelhos a manterem, devidamente armados e treinados, um conjunto de Besteiros que podiam ser chamados a qualquer momento para integrar o exército do Rei.
Quanto às alterações arquitectónicas, convém ressalvar que, ao contrário dos castelos românicos, os castelos góticos eram obras em que para funcionarem correctamente os princípios poliorcéticos inerentes aos novos mecanismos de defesa, era fundamental um saber arquitectónico elevado por parte dos responsáveis pela sua construção. Passaram assim os castelos a ser construídos por mestres-arquitectos experientes que deixaram a sua marca nas epígrafes que chegaram até nós. São os casos do castelo de Melgaço (ainda do tempo de D. Afonso III) onde surge o primeiro balcão com matacães de que há registo em Portugal, da autoria de Mestre Fernando (1263), o de Veiros, da autoria de Mestre Pedro Abrolho (1308) ou ainda o de Estremoz da autoria de Mestre Antão (1320).
Fig. 12 - Torre do castelo de Estremoz com os seus balcões matacães
A parte da fortificação tradicionalmente mais frágil e sob a qual se tinha maior preocupação era a porta. Por isso, no período românico, o número de portas reduzia-se ao mínimo indispensável (mesmo nas urbes). Normalmente eram duas portas: a principal (a mais ampla e visível) e a porta da traição (de dimensões mais modestas, camuflada e de acesso difícil, usada frequentemente em caso de emergência). A protecção das portas era portanto um factor a ter em linha de conta. É a partir desta altura que as portas dos castelos passam a estar enquadradas por um ou dois torreões de apoio (ex: Serpa, Redondo, Alandroal, Veiros, Arraiolos e Nisa).
Na cintura muralhada assiste-se à multiplicação do número de torreões adossados, afastados entre si uma média de 8 a 15 metros. Esta medida permitia um melhoramento no tiro flanqueado. Por sua vez, o facto dos torreões terem plantas rectilíneas na sua maioria, reflecte o fraco poder ofensivo das forças inimigas e a escassa utilização de máquinas de guerra em território nacional.
No adarve verifica-se igualmente uma melhoria nas condições de defesa e de circulação. Passam a ser aplicados os merlões góticos no lugar dos românicos (que são mais largos e menos altos) e estes começam a abrigar uma seteira, aumentando assim a capacidade de tiro das forças sitiadas. Os adarves alargam-se para facilitar a circulação dos defensores e as escadas de acesso ao topo das muralhas passam a ser adossadas ao muro (em épocas mais recuadas eram incluídas na espessura dos muros).
Fig. 13 - Segmento de muralha com merlões, seteiras, adarve e matacães
As torres de menagem deixam de ter planta de quatro faces rectas, para passarem a ser construídas em planta poligonal (aumento dos ângulos de tiro). As torres passaram a ser deslocadas para junto das muralhas (ao contrário dos românicos em que se situavam em posição central do núcleo muralhado, funcionando um pouco como um “castelo dentro do castelo”). São exemplos onde esta mudança se verifica os castelos de Guimarães, Sortelha, Almourol e Belver. As torres vão assim deslocar-se para zonas do castelo onde a defesa era mais difícil. Esta nova localização das torres traduz uma maior confiança na capacidade defensiva do castelo.



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